Muito temos percebido que as pessoas perderam os seus limites na emissão de suas opiniões, tornando-se cada vez mais radicais sobre assuntos de política, sexualidade, religião, dentre outros, buscando, em geral, a preponderância de seus pontos de vista. São as redes sociais, grupos de WhatsApp, mesa de bar, almoço em família... não há mais lugar onde uma discussão não se estabeleça, e pior: geralmente com desfecho em brigas e término de amizade.
O fanatismo ganhou a estrada, em sua via preferencial. As discussões deixaram de ser troca de ideias e se transformaram em batalhas extremistas, cheias de raiva em defesa de conceitos e ou pessoas, em uma obsessiva adesão incondicional, sem qualquer ideia de limite, valendo-se, inclusive, de distorcer ideias, mentir, inventar conceitos, dizer que pesquisou, que viu um estudioso... não importa a linha de argumento, mas precisa se chegar ao fim, no convencimento – ganhar a tal batalha de narrativas. Vale tudo, para o fanático, a fim de convalidar as suas ideias. Nunca há plausibilidade nas discussões.
O que, no entanto, leva ao fanatismo, ou está por trás desta estrutura de personalidade que se descompensa, em, muitas vezes, defender o ilógico, o incongruente ou escancaradamente errado e mentiroso? O mundo dos psicólogos gravita sobre o encontro dessas respostas, dividindo, muitas vezes, com a própria neurociência o entendimento de que a dopamina, um neurotransmissor intimamente ligado às manifestações das emoções se mobiliza diante de um prazer, de uma conquista, busca-se o prêmio dela, mas como uma droga, há necessidade cada vem mais e mais de produzi-la.
Assim, o fanático vai em uma crescente exaltação, para melhor ser a sua recompensa da “concordância” do outro, do inimigo. Não havendo, o descontrole se apresenta. Outros estudiosos, em via diferente, afirmam que este viés (fanatismo) sempre esteve naquele indivíduo, que vai mudando de foco das suas brigas com o passar do tempo. Ainda assim, é importante considerar que o fanatismo não é classificado como uma doença. “Ele é um comportamento disfuncional, mas não é considerado um transtorno mental, e se caracteriza por uma crença ou comportamento que não admite refutação, que é defendida de forma obsessiva e apaixonada e que deixa muito pouco espaço para a tolerância às ideias contrárias”, explica a médica psiquiatra Elisa Brietzke, orientadora do programa de pós-graduação em psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O certo é que o fanático, sempre usa um escudo de proteção dos seus valores de ser. Fecha-se em suas convicções e nelas se oxigena, para não ter que lidar com os seus próprios medos e fragilidades. Não pode nunca capitular em suas defesas, por mais ilógicas que sejam.