O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) lança uma nova cultivar de café propagada por semente. A ‘Conquista ES8152’ é a 11ª variedade de café lançada pelo Incaper, e a segunda propagada por semente.
Dentre as principais características da nova cultivar está sua ampla base genética. Enquanto uma variedade clonal é normalmente formada por 9 a 14 clones, esta cultivar reúne 56 genótipos diferentes (clones e híbridos). A produtividade é de 74 sacas por hectare em condições normais de cultivo, o que a torna 47% mais produtiva que a Robusta Tropical, primeira cultivar propagada por semente, lançada pelo Incaper em 2000.
Rústica, a cultivar Conquista se adapta aos ambientes quentes do Espírito Santo. Suporta bem as altas temperaturas e a insolação. A planta é vigorosa, mais tolerante à seca, e apresenta moderada resistência à ferrugem (principal doença do café). O tamanho do grão é de médio a grande, e a qualidade da bebida foi considerada superior, conforme classificação mundial, pois apresentou mais de 80 pontos.
“Durante muitos anos, o cafeicultor capixaba buscava aumentar sua produtividade. Por isso, o Incaper direcionou suas pesquisas para a seleção de materiais através de plantas assexuadas, que são as variedades clonais, bastante produtivas. Mas de uns anos para cá, até mesmo por conta do longo período de seca, esta necessidade mudou: o produtor agora busca por plantas mais resistentes, e as variedades seminais são alternativas adequadas para atender a esta demanda. A procura por café seminal aumentou nos últimos anos, principalmente por conta da seca”, explicou Abraão Carlos Verdin Filho, pesquisador do Incaper e Coordenador Técnico de Cafeicultura.
Outra grande vantagem da cultivar é o preço da muda. Por exigir menos mão de obra, menos manejo e controle de viveiro, o custo da muda seminal é 50% menor do que as mudas clonais. “A cultivar Conquista consegue se desenvolver muito bem e ter uma boa produtividade mesmo sem irrigação. A irrigação acaba sendo o maior custo para o produtor. Se a Conquista exigir água, será só uma irrigação suplementar, na fase da formação das mudas. Isso diminui bastante os custos de produção”, acrescentou Verdin.
“Muitos cafeicultores capixabas estão situados em regiões com grande déficit hídrico e, até mesmo por limitações econômicas, não têm condições de investir em irrigação, não tem onde buscar água... Esta variedade seminal veio para atender, principalmente, as necessidades daqueles produtores que têm mais dificuldade em acessar recursos”, complementou o pesquisador do Incaper.
O pesquisador do Incaper Romário Gava Ferrão, coordenador desse trabalho de melhoramento, destaca que a cultivar Conquista oferece mais segurança ao produtor: “Os avanços da cafeicultura nos últimos 30 anos são de conhecimento de todos. Mas ainda temos desafios, e um dos mais relevantes está relacionado às incertezas climáticas. O Incaper trabalha cada vez mais buscando tecnologias sustentáveis. E o Programa de Melhoramento Genético está inserido neste contexto. Um dentre os diferentes resultados desse Programa é a cultivar Conquista, que oferece mais segurança, sobretudo aos pequenos cafeicultores de base familiar, por reunir todas estas características”.
Como a tecnologia foi desenvolvida
A cultivar é fruto do agrupamento dos melhores clones do Programa de Melhoramento Genético do Incaper, que começou 1985. Uma das principais características da Conquista é sua ampla base genética: para o desenvolvimento da cultivar foram avaliadas em experimentos nessas mais de três décadas 3 mil plantas, selecionadas em lavouras de cafeicultores capixabas e também do próprio Programa de Melhoramento Genético. Nos estudos os materiais genéticos foram avaliadas de 6 a 12 colheitas para diferentes características associadas a produção e qualidade, e as 56 melhores foram selecionadas e agrupadas para a formação da nova cultivar.
O Coordenador Técnico de Cafeicultura do Incaper explicou que a variabilidade genética está diretamente relacionada com sustentabilidade. “Há uns 30 anos, todas as lavouras do Espírito Santo eram seminais. Cada planta era um indivíduo diferente. Nós separamos os 56 genótipos com as características mais promissoras e agrupamos nesta cultivar. Esta variabilidade permite um equilíbrio das características de cada uma delas, o que é fundamental para a sustentabilidade. Quanto mais diversas forem as características genéticas da planta, maior variabilidade você tem, e mais sustentável se torna a lavoura”, disse Verdin.
As avaliações foram feitas em 3 ambientes, nos municípios de Marilândia, Sooretama e Cachoeiro de Itapemirim. Estes municípios são representativos da cafeicultura de Conilon do Estado, segundo Ferrão. Ele lembra que os materiais foram avaliados em condições de estresse hídrico. “A planta necessita de 1.600mm de chuva bem distribuída ao longo do ano para se desenvolver e produzir bem. De acordo com os nossos estudos, a precipitação média dos últimos 33 anos nos 3 ambientes estudados foi de 1.137mm. Mas houve registros em alguns anos de chuvas inferiores a 700mm”.
Além disso, estes 56 materiais genéticos (clones e híbridos), que representam menos de 2% de todo o material avaliado, foi plantado em campo isolado, onde não há outro conilon por perto. O cruzamento entre essas plantas selecionadas resultou na semente que deu origem à cultivar Conquista.
Lançamento
A cultivar ‘Conquista ES8152’ será lançada na quarta-feira, dia 26 de junho, na Fazenda Experimental de Bananal do Norte, em Pacotuba, Cachoeiro de Itapemirim. Na ocasião, haverá degustação orientada de cafés, palestra técnica a respeito da nova cultivar e distribuição de sementes.
Folder
O Incaper elaborou um folder com as informações técnicas a respeito da nova cultivar da café conilon. A publicação está disponível gratuitamente na Biblioteca Rui Tendinha.