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“Eles”
Um fato um tanto inusitado ocorrido hoje me fez voltar a escrever uma crônica, depois de mais de uma década que deixei de fazer esses pequenos registros do dia a dia.
Envio esse modesto texto a alguns parentes, amigos e pessoas mais próximas, para evitar que, como outros, esse registro seja destruído por traças, no fundo de uma caixa de documentos.
Na manhã desta sexta-feira, antevéspera do segundo turno da eleição presidencial, transitando na calçada na confluência da rua Duque de Caixas com a Floriano Peixoto, fui abordado pelo Guardador de Caros que atua naquele local. Um sujeito simples, conhecido de vista, pois passo sempre por ali. Trocamos sempre uns brevíssimos diálogos. Algo como “bom dia”, “boa tarde” “tá um calor danado”.
Sorridente, muito simpático, Ele me abordou de forma direta, sem arrodeios - Eu na calçada e Ele do outro lado de um veículo, na rua -, e me perguntou, em quem Eu ia votar. Também de forma franca, respondi-lhe, disse que estava difícil escolher entre os dois candidatos existentes; sem sequer entrar no mérito, assim, demonstrando toda a
minha desesperança.
“Mas temos de votar no Haddad, pra mudá essa situação que tá aí, consertar nosso país”, respondeu-me Ele, demonstrando entusiasmo. Parecia decidido a me convencer a votar no que entendi ser o seu candidato.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, cinco, seis, talvez mais, não sei, enquanto Ele me fitava fixo, olhos nos olhos, parecendo estar decidido a influenciar-me.
Nesse ínterim, pensei se respondia ou não; se alimentava o papo... Nada contra Ele; é que tenho estado indisposto a discutir política, sem a menor vontade, mesmo.
Ai, resolvi aproveitar a sua deixa dele, e indaguei: “Consertar o nossos país?”
- Sim. Respondeu-me com o mesmo entusiasmo, demonstrando confiança.
- E quem arruinou? Perguntei.
- Eles! Falou com a voz empostada, firme, gesticulando; o dedo indicador da mão direita levantado, indicando para cima.
- Eles, quem? Inquiri, curioso.
- Eles, ora! Disse, voltando a gesticular, dessa vez, abrindo os braços, como se me perguntasse, “não sabe da nada, tá por fora?”
Lembrei-me do programa eleitoral do candidato petista na TV. Não pude resistir, e terminei sorrindo um pouco. Ele também sorriu, piscando um dos olhos.
- Vou pensar no que Você falou. Respondi-lhe, assim... só para não deixá-lo sem uma resposta, sem graça, e segui.
Porém, não resisti e olhei de relance para trás, e senti a sua satisfação. Colocava um papelão sobre o para-brisa de um veículo, todo sorridente.
Sinceramente, gostaria de saber se me “havia dado” como convencido, como um voto conquistado para o seu candidato.
Teoney Araújo Guerra
Jornalista