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CIDADANIA

Dois de Julho: 200 anos de luta e resistência do povo baiano

Historiador esclarece os motivos que resultaram nas lutas pela independência da Bahia

Por: TRBN
Publicado em 02/07/2023 07:18
Atualização:02/07/2023 07:42

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Ficar livre da opressão portuguesa e conquistar por completo o território nacional eram os sentimentos que uniram o povo brasileiro há 200 anos. A tirania de Portugal não combinava mais com os baianos. Mas foi no ano de 1823 que o povo brasileiro que aqui residia decidiu que o despotismo não iria mais comandá-los. Mas o processo de independência do Brasil na Bahia não foi rápido, ao contrário durou um pouco mais de um ano, mesmo depois da declaração da independência do Brasil no Sete de Setembro. Aconteceram diversos conflitos e muitas pessoas morreram no processo para que hoje pudesse ser comemorada a vitória do 2 de julho.


Para que haja uma melhor compreensão sobre a Independência da Bahia em 1823, é preciso voltar um ano antes. Alguns dos motivos que levaram a emancipação da província baiana foi a grande cobrança de impostos por parte da coroa portuguesa.


Além disso, a substituição do até então governador de armas da Bahia, Manuel de Freitas pelo Brigadeiro Madeira de Melo, um homem de personalidade perversa e autoritária, foi um incentivo para que acontecessem os conflitos pela emancipação.

O historiador Ricardo Carvalho esclarece os motivos que resultaram nas lutas pela independência da Bahia. “A Bahia guardou condições ideais para um movimento de insurgência contra o domínio português no Brasil. Primeiro porque a opressão fiscal era muito grande. A economia açucareira já vinha em processo de decadência desde a saída dos holandeses do Brasil, e ainda assim as cobranças de impostos eram muito grandes”, explicou.


Carvalho ainda reforça que a Conjuração Baiana já dava sinais da insatisfação do povo frente ao regime português. “Romper o vínculo com Portugal, acabar com o sistema escravista e criar um regime republicano era uma premissa do que viria mais adiante. Aqui na Bahia algumas condições favoreceram esse rompimento, que aconteceram antes mesmo do sete de setembro”.


O Brigadeiro Madeira de Melo enviado ao Brasil pela coroa portuguesa não foi muito bem recebido pelas tropas
brasileiras, diante da oposição ele tomou o poder à força. Muitos ataques e saques às residências dos baianos foram ordenados por Madeira de Melo. Dentre eles, uma tentativa de invasão ficou marcada na história da independência da Bahia: a invasão ao Convento da Lapa. As forças portuguesas tentaram adentrar o convento, pois eles achavam que homens do exército brasileiro podiam estar escondidos naquele local. Mas a primeira mártir da guerra, a abadessa Joana Angélica, tentou impedir a entrada deles, no entanto a mesma foi morta por golpes de baionetas, um tipo de arma militar da época.


Outro momento que foi fundamental para que houvesse finalmente a emancipação da Bahia foi a Batalha de Pirajá. A declaração da Independência do Brasil já tinha acontecido no dia 7 de setembro de 1822, mas mesmo assim, uma parte do Brasil, a Bahia, ainda era colonizada por Portugal. Diante da opressão e violência do exército português liderado por Madeira de Melo, o príncipe regente, Dom Pedro I enviou reforços militares para a província baiana comandados pelo General Pedro Labatut.

 

Negros livres, brancos pobres e indígenas no Exército 


O exército brasileiro que era formado por negros livres e escravizados, soldados contratados, indígenas e por brancos pobres estavam com fome, cansados e doentes.

Ainda assim, o General Labatut com suas estratégias militares conseguiu montar um cerco contra o brigadeiro Madeira de Melo tanto em terra, desde Pirajá até Itapuã, quanto pela Baía de Todos-os-Santos, impedindo assim que suprimentos e reforço militar chegasse para a tropa portuguesa.

Ainda com a Batalha de Pirajá acontecendo em Salvador, um personagem teve participação fundamental: o soldado Lopes. Mesmo com Negros livres, brancos pobres e indígenas no Exército o cerco contra as forças portuguesas, os brasileiros envolvidos na guerra estavam em desvantagem. Diante disso, o corneteiro Lopes recebeu ordens para dar o toque de “recuar” na sua corneta, mas o soldado fez o contrário, tocando “cavalaria avançar!”. Temendo a represália, os militares portugueses partiram em retirada, dando vitória ao exército brasileiro. Mas a luta pela independência da Bahia ainda não tinha acabado.

Mesmo perdendo a Batalha de Pirajá, Madeira de Melo não saiu do território baiano. Ele tentou invadir a Ilha de Itaparica, mas não obteve sucesso graças à lendária baiana Maria Felipa, que juntamente com outras mulheres detiveram as tropas portuguesas. Já em maio de 1823 mais reforços marítimos a favor do povo baiano chegaram ao porto de Salvador. Sem suprimentos e percebendo que estava derrotado, o exército português comandado por Madeira de Melo finalmente deixou a Bahia no dia 2 de julho de 1823. Toda a população saudou ao exército brasileiro pela vitória. Após isso, todos os anos a Independência da Bahia é celebrada.

O historiador Ricardo Carvalho fala da importância da emancipação baiana ocorrida no dia 2 de julho de 1823. “Sem a luta de independência da Bahia não existiria a independência do Brasil. O Dois de julho é o dia da libertação nacional. Ele representou a consolidação da unidade nacional. Após perder o sul do Brasil, desde que Dom Pedro não aceitou a ingerência de Portugal a partir do ato simbólico do sete de setembro de 1822, restava aos portugueses a esperança de pelo menos manter o restante do Brasil, da Bahia para cima. Ou seja, o Brasil estaria dividido hoje se a Bahia não tivesse consolidado a independência e não tivesse garantido a unidade nacional”, pontuou.

 

 

 

 








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