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DESEMPENHO PÍFIO

“O ensino médio está no fundo do poço”, diz ministro da Educação; E não adianta colocar a culpa naqueles que se dedicam no dia-a-dia a ensinar

Faltam políticas públicas que permitam que a educação funcione da maneira que o brasileiro precisa

Por: CliC101 | MSN Notícias / BNotícias
Publicado em 31/08/2018 09:46

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Que as escolas brasileiras não conseguem fazer frente à imensa maioria de seus pares estrangeiros não é novidade. Surpreendente é o quão distantes as salas de aula daqui estão de um ensino minimamente decente — sim, decente é a palavra. Um relatório divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) mostra que uma minúscula fração dos estudantes detém o conhecimento esperado para a série que estão cursando.

 

Os números do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), termômetro da educação básica oferecida na rede pública, revelam que no 3º ano do ensino médio — o maior de todos os gargalos — apenas 4% sabem o que deveriam saber de matemática. Os outros 96% patinam em variados graus de dificuldade. Em português, só 1,7% dos alunos estão em nível adequado.

 

Foto: Reprodução/MEC

Segundo entrevista à revista VEJA, o ministro da Educação,Rossieli Soares, falou sobre o Saeb e enfatizou a urgência de uma reviravolta no ensino médio em vigor.

 

Por que o ensino médio precisa mudar? 

 

Porque ele não é atrativo a um número considerável de jovens, que acabam abandonando os estudos. Os que persistem dizem, pesquisa após pesquisa, que não veem sentido no que estão aprendendo. E os dados do Saeb estão aí, para provar que o ensino médio brasileiro está mesmo no fundo do poço. Temos uma fórmula velha, que se pretende inclusiva, mas que, na verdade, é uma grande produtora de desigualdades.

 

De que maneira o ensino médio aumenta as desigualdades? 

 

Um modelo inflexível, engessado e igual para todos só serve a um tipo de aluno. Portanto, é excludente.

 

Os críticos do novo ensino médio afirmam o oposto: criar escolas diferentes entre si vai deixar uma turma na segunda classe do ensino, argumentam.

 

A experiência internacional mostra que oferecer caminhos distintos é a maneira de trazer mais jovens às salas de aula. O que temos hoje no Brasil vai na trilha inversa — trata-se de um sistema que expulsa. Entendo que mexer com o status quo é sempre complicado: as pessoas têm um medo natural.

 

Com a possibilidade de os alunos montarem sua própria grade de matérias, os professores de disciplinas menos demandadas não podem perder o emprego? 

 

Não. No novo modelo, os professores vão é trabalhar mais horas e de forma conjunta uns com os outros. Terão de aprender a atuar de modo diferente, isso sim, já que a ideia é que a escola integre conteúdos.

 

Não é fácil fazer isso sem cair no risco de oferecer uma abordagem rasa das matérias, certo? 

Não é. Por isso vamos treinar os professores.

 

Qual é a previsão para a implantação deste novo modelo?  

A partir do ano que vem já começa a ser posto em prática, gradualmente, até abranger 100% das escolas em 2022. Não é nada simples. O material didático, por exemplo, terá que ser todo revisado para se amoldar à nova fórmula.

 

E o Enem?

O Enem precisa e vai mudar.

 

Os resultados pífios do ensino médio têm conexão direta com a base fraca também no nível fundamental. O que o Saeb mostra sobre isso?  

O Saeb revela que o aluno progride pouco ao longo do percurso escolar — e isso vai se agravando nas séries mais avançadas. Se ele tem uma defasagem na alfabetização, logo na largada, isso pode virar uma bola de neve. Uma lacuna pequena no começo tem chance de crescer exponencialmente.

 

Afinal, falta dinheiro à educação brasileira? 

 

O investimento por aluno ainda é baixo na comparação com outros países, mas as verbas existentes precisam ser geridas de forma mais eficiente. Também precisamos trabalhar cada vez mais em cima de evidências científicas e parar de querer agir na base da adivinhação. Isso é perda de tempo e, claro, dinheiro.

 

 

Foto: Reprodução

OS POLÍTICOS E A EDUCAÇÃO

 

A discussão sobre educação não deveria ser meramente partidarizada. Os dados da Bahia, por exemplo, mostram que a má qualidade do ensino é fruto da gestão das mais diversas cores do arco-íris de partidos brasileiros. Do total de municípios baianos, pelo menos 381 apresentam índices abaixo da média nacional para matemática para alunos do 9º ano. Ou seja, não há distinção de legenda quando o tema é falta de atenção com o ensino básico. Todos pecam.

 

Logicamente os adversários do governador Rui Costa (PT) vão usar os desempenhos ruins da Bahia no comparativo dos últimos dois anos. Porém é injusto jogar a conta apenas no colo daquele que está atualmente no poder. O sucateamento das escolas da rede pública no Brasil e na Bahia remete à década de 1980, quando as classes mais abastadas passaram a frequentar apenas o ensino privado. É uma herança que se perpetua há duas ou três décadas. Ou mais.

 

E não adianta colocar a culpa naqueles que se dedicam no dia-a-dia a ensinar. Faltam políticas públicas que permitam que a educação funcione da maneira que o brasileiro precisa. Grande parte dessa responsabilidade vem dos políticos, que optam por manter a precarização das escolas para manter o status quo de um país de pessoas que sabem ler e escrever, mas não sabem interpretar um texto de maneira coerente.

 

As eleições a cada dois anos apenas comprovam que vivemos à beira de um abismo. Cada vez mais perto de cair, inclusive. As razões para que estudantes não sejam bons em português ou matemática passam, principalmente, pelo voto. Em 2018, com os indicativos de altos índices de abstenção ou não voto, a ida as urnas será um grande diferencial para saber o que queremos para o futuro.

 

Tal discussão vale para o Executivo, mas principalmente para o Legislativo. Se você acha uma aberração ver alguns candidatos ao Palácio do Planalto em outubro, lembre que eles nasceram e se criaram como parlamentares. Convenhamos: somos todos responsáveis pelo buraco que se cava no cenário político. Não podemos continuar seguindo a lógica do nosso sistema de gestão pública se quisermos uma mudança profunda na educação de crianças e adolescentes – o que também é fundamental para melhorar índices de saúde e segurança.

 

A outra opção é mantermos no poder as mesmas pessoas, tomando as mesmas decisões e aceitarmos o papel que os políticos nos colocam, que é muito próximo ao que o índice do Inep mostra: de pessoas praticamente inertes e inaptas.








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