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CULTURA INDÍGENA

A magia dos seres encantados ganha vida no Festival Caju de Leitores

Txatxu Pataxó, Janice Cardoso e Juerana Pataxó compartilharam suas experiências sobre o Corpo como território de identidade

Por: Saruê Cultural
Publicado em 06/09/2024 08:01
Atualização:06/09/2024 08:07

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A Oração e Awê Pataxó fizeram parte do Festival Caju de Leitores / Foto: Leo Barreto

O Festival Caju de Leitores teve seu início nesta terça-feira, 3, convidando o público a embarcar em uma viagem pelo fascinante universo dos seres encantados. Aline Kayapó trouxe à tona as lendas da Curupira e da Matinta Pereira, seres místicos que fazem parte da rica cultura dos povos indígenas. A narração envolvente cativou tanto as crianças quanto os adultos presentes, que se deixaram levar pela magia das histórias. Antes disso, o grupo cultural Xandó emocionou a todos com uma bela oração Pataxó, seguida de um awê de boas-vindas ao público presente.

A professora do IFBA, Chris Fernandes, e seu filho de 9 anos, Joca, foram apenas dois dos muitos participantes que lotaram a Oca Tururim. Joca ficou encantado com o grafismo feito por Tucunã em seu braço e já se comprometeu a participar dos próximos eventos do Caju. Esta foi a primeira vez que Chris e Joca participaram do Festival, e a professora ficou impressionada com a forma como as crianças interagiam e como as histórias eram contadas.

"É incrível ver como as crianças falam sobre seus ancestrais e os encantados. Não esperava essa profundidade nas respostas dos pequenos. Participar e vivenciar o Caju é uma experiência enriquecedora para todos nós", destacou Chris.

Aline Kayapó encantou os presentes com a Curupira e a Matinta Pereira / Foto: Leo Barreto

ARTE ANCESTRAL

Durante a manhã do Caju de Leitores, Tucunã Pataxó, artista no cenário da tatuagem e da arte ancestral, teve a oportunidade de compartilhar sua trajetória e experiências com o grafismo indígena. Em meio às perguntas dos participantes, ele revelou a fonte de inspiração por trás de suas criações, demonstrando sua paixão e dedicação ao seu trabalho.

"Para criar meus grafismos, busco um momento de concentração. Faço uma cerimônia com minhas medicinas e coloco uma música suave. Prefiro trabalhar quando estou em um estado de felicidade e tudo está fluindo. Evito criar arte quando estou estressado ou enfrentando problemas, pois acredito que não faz sentido expressar energias negativas. Afinal, toda arte carrega consigo uma energia única”, revelou. 

Os participantes foram convidados a vivenciar a literatura índígena / Foto: Leo Barreto

LUGAR DE FALA

Paralelamente a estas apresentações, as escritoras Auritha Tabajara e a vice-cacica Ahnã Pataxó foram convidadas a interagir com os adolescentes da Escola Indígena de Barra Velha. Além de compartilhar suas experiências, o diálogo abordou o papel da literatura e a importância do lugar de fala, em consonância com o tema do Festival 'Territórios - O Brasil é Terra Indígena'.

Para Raiuire Braz, de 16 anos, que participou representando a Escola Indígena de Barra Velha, o ponto alto da conversa foi a recitação de um poema por Auritha Tabajara. “A autora contou sobre a vida dela e declamou ‘O Grão’. Achei bem importante para a nossa sabedoria, para aprender mais do que a gente sabe e para carregar o que os nossos ancestrais conseguiram construir pra gente”, destacou.

TERRITÓRIO DE IDENTIDADE

A discussão sobre o Corpo como expressão e território de identidade foi o foco da mesa de debate 'Território de Identidade', que contou com a participação de Juerana Pataxó, Janice Cardoso e Txatxu Pataxó. Juerana, uma figura importante na Aldeia Boca da Mata, uma das 16 que integram o TI da Aldeia-mãe Barra Velha, iniciou o diálogo compartilhando a luta contínua do povo Pataxó pela preservação de seu território e como a identidade Pataxó tem sido fundamental para manter as aldeias unidas e preservar a cultura e tradições indígenas.

Txatxú destacou a importância das pinturas e grafismos como representações da identidade Pataxó, explicando que cada desenho possui um significado específico. O vermelho, por exemplo, simboliza as lutas e a proteção do povo Pataxó, enquanto o preto é utilizado em sinal de luto em memória do índio Galdino da etnia Pataxó HãHãHãe, que foi queimado vivo. 

“O amarelo, presente em cerimônias como batizados e casamentos, representa a pintura da Remunganha (onça), um animal de poder que protege contra o mal e simboliza a rica cultura do povo Pataxó”, ressaltou Txatxu, finalizando “um povo sem cultura não é nada".

Janice Cardoso, uma jovem liderança, trouxe à mesa um debate sobre a identidade, questionando a história do território onde nasceu e cresceu. Ela compartilhou: "Foi ouvindo os mais velhos que compreendi minha própria identidade. Não é possível discutir a identidade territorial sem mencionar Caraíva, onde fui criada, e sua perda de identidade, uma vez que também é lar do Povo Pataxó. Antigamente, a relação entre Caraíva e Barra Velha era de troca e amizade, porém, com a gentrificação, essa conexão se perdeu, impactando a identidade, a cultura e o legado ancestral. Meu pai me incumbiu da missão de defender nosso território, e tenho plena consciência de que o que prejudica Caraíva também afeta Barra Velha, Xandó e vice-versa", enfatizou Janice.

O Festival Caju de Leitores, promovido pela Savá Cultural e com o patrocínio com incentivo da Lei Rouanet, Ministério da Cultura, é um evento gratuito. Para mais informações e programação completa, acesse o site www.cajuleitores.com.br ou siga o Instagram @cajuleitores (https://www.instagram.com/cajuleitores).

 







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