Rose Marie Galvão
A Lua é o principal assunto desta semana em que a odisseia no ser humano ao satélite natural da Terra completa 50 anos. Em Eunápolis, um colecionar relembra a data da primeira alunissagem, em 20 de julho de 1969, exibindo publicações daquele feito, que até hoje divide o senso comum. Segundo pesquisas, uma em cada quatro pessoas não acredita neste fato.
O jornalista Paulo Roberto Barbosa, dono de uma invejável coleção de objetos antigos, que inclui moedas e cédulas nacionais e de outros países, mostra o exemplar da Revista Fatos e Fotos, que na edição de julho de 1969 apresentou os primeiros detalhes e a cobertura da descida em solo lunar.
A revista, da editora Abril, que publicou os primeiros resultados científicos da exploração da Lua, curiosamente contém um encarte especial [um disco em vinil] que reproduz os diálogos dos três astronautas da Missão Apollo 11 – Neil Arsmstrong, Michell Colins e Buzz Audrin. Esse exemplar é apenas um dos itens curiosos da vasta coleção deste jornalista, há mais de 20 anos radicado em Eunápolis.
Todo o acervo contém máquinas de escrever antigas, máquinas de costura e de fotografia, gravadores, relógios antigos de parede, de bolso e pulso [entre eles um teria pertencido a um dos cangaceiros do Bando do Lampião], revólveres fabricados durante a 1ª Guerra Mundial e até uma baioneta de origem alemã que certamente foi usada pelos nazistas.
Amante da boa música, a coleção não podia deixar de conter uma antiga radiola estereofônica Semp (sigla para Sociedade Eletromercantil Paulista) e dezenas de discos de vinil (os antigos bolachões de PVC também chamados PL).
MOEDAS E CÉDULAS
No entanto, o que mais chama a atenção é a coleção de moedas antigas cunhadas pela Casa da Moeda do Brasil. São mais de mil exemplares. Algumas de peças raras como a moeda de 1.000 Réis, Comemorativa do Centenário da Independência do Brasil (1822-1922), cunhada pela Casa da Moeda, no Rio de Janeiro, em bronze alumínio. Ela tem diâmetro de 26,7 mm e pesa 8 gramas, com espessura de 2,20 mm.
Paulo Barbosa explica que desta moeda foram cunhadas 16.698 mil unidades. Nela, é possível distinguir, no anverso, os bustos de Bom Pedro I e do presidente Epitácio Pessoa, envolvidos pela inscrição ACCLAM DA INDEPENDÊNCIA ** X PRESID. DA REPUBLICA – BRASIL. E no reverso, a tocha com dois ramos, um com coroa e outro com o barrete frígio da liberdade, o valor de 1.000 Réis e as datas 1822 e 1922 – 7 de Setembro, 1º centenário da independência.
Outra curiosidade é o trio de moedas comemorativas do Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil. São três moedas de aço inox com diâmetro de 31,0 mm [maiores que as atuais moedas de 1 Real] e pesa, cada uma, 9,95 gramas. No anverso de cada delas, temos as inscrições: “Mulher Negra – Homem Negro e Criança Negra CENTENÁRIO DA ABOLIÇÃO, 1888 1988 e AXÉ. No reverso foi cunhado o valor, o dístico do Brasil e as estrelas. Todas são de valor inestimável para colecionadores.
O colecionador conta que foram cunhadas 200 mil exemplares de cada um delas, mas não chegaram a entrar em circulação, sendo apenas edição para colecionados.
Barbosa também possui exemplares de 500 Réis e a de 2 mil Réis, cujo material é composto 90% de prata e 10% de cobre e se orgulha de ter conseguido, em 2016, a linha completa de moedas comemorativas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, inspirada em cada uma das modalidades esportivas da competição.
Essa série de moedas foi lançada em ouro, prata e linha de circulação comum, depois de muitos anos que o Real não tinha novos modelos lançados de cédulas de moedas.
CRIANÇA CURIOSA
Segundo ele, a ideia de colecionador aflorou quando ainda era criança, na cidade de Ubá, em Minas Gerais. “Mamãe lavava roupas e papai era puxador de enxada e recebiam muitas pessoas na roça, onde havia uma espécie de clareira, aonde os cavaleiros guardavam animais e apetrechos”. Paulo conta que, ainda menino, se disponha a tomar conta dos objetos e ajudar os montadores, e assim ia ganhando moedas ou pequenos objetos, hoje de grande valor, que ele guardou ao longo dos anos.
Assim nasceram as primeiras coleções. Quando adolescente, ele passou a “correr atrás dessas preciosidades”. Já adulto, chamou a sua atenção o fato de que o Brasil, frequentemente, mudava de moeda. Assim, Paulo Barbosa resolveu guardar as cédulas emitidas pelo governo Brasil desde o início da República até os dias atuais.
Para que a coleção esteja completa, ele deseja somente um exemplar da cédula de 50 mil Cruzeiros Reais, emitida em 1993, com a efígie de uma baiana.
A MOEDA NO BRASIL
A primeira moeda legitimamente brasileira foi cunhada em território nacional na Antiga Casa da Moeda da Bahia, em 1694. De lá pra cá nosso dinheiro mudou nove vezes, perdendo dezenas de zero por conta da inflação galopante no passado. Somente com o Plano Real, em 1994, a moeda se estabilizou. Basta dizer que resiste inclusive a toda essa corrupção politica e empresarial da atualizada. A taxa de desvalorização tem sido lenta.
A moeda do Império (1833-1888) era o Real, mas se baseavam no sistema monetário português. E o real era conhecido como “réis”.
Na República (1889-1942) a moeda continuou sendo o real, o governo emitiu novas cédulas. Mil réis era praticamente o nome da moeda, já que ela valia mil dos antigos reais do império. O montante equivalente a mil réis era chamado de conto de réis, ou seja, um milhão de reais do império.
O Cruzeiro (1942-1967) foi criado em 1942 substituindo o mil réis, que gerava certa confusão por conta das frações serem em milésimos. Com o Cruzeiro, foi a primeira vez que a moeda nacional teve Centavos, facilitando as transações. Um Cruzeiro equivalia a mil vezes o Mil Réis, ou um Conto de Réis.
De 1967 a 1970 tivemos no país o Cruzeiro novo que utilizou as mesmas cédulas do cruzeiro, mas com um carimbo mostrando seu novo valor. Foram cortados três zeros da moeda, e 1.000 Cruzeiros passaram a valer 1 Cruzeiro Novo.
O dinheiro brasileiro volta a se chamar Cruzeiro de 1970 a 1986, no período da ditadura militar. Desta vez com novas cédulas. Seu valor foi alterado, a moeda foi se desvalorizando e novas cédulas de valor muito maior foram sendo criadas. Em 1986, o último ano de circulação dessa moeda, já existem notas de 100 mil Cruzeiros. Um horror.
O Cruzado (1986-1989) teve curta duração. O padrão das cédulas, neste período, continuou o mesmo, mas a moeda perdeu três zeros e 1 mil Cruzeiros passaram a valer 1 Cruzado. Durante os primeiros meses da mudança, as antigas cédulas de cruzeiros foram carimbadas com o novo valor em Cruzados.
O Cruzado Novo veio substituir o Cruzado, na segunda reforma monetária do governo do presidente José Sarney. A moeda perdeu três zeros em relação à sua antecessora, e mais uma vez as notas receberam um carimbo com o novo valor do período de transição. Em seguida, novas cédulas foram criadas.
Cruzeiro (1990-1993) – Pela terceira vez, nossa moeda recebe o nome de Cruzeiro, na reforma monetária de 1990, mas mantendo o valor de seu antecessor, o Cruzado Novo. A hiperinflação fez a moeda se desvalorizar rapidamente em apenas três anos, já havia cédulas de 500 ml Cruzeiros.
O Cruzeiro Real (1993) foi instituído em 93, cortando três zeros da moeda anterior, e aproveitando algumas de suas notas, devidamente carimbadas com o novo valor.
Real (a partir de 1994) Em julho de 1994 foi criada uma moeda para definitivamente frear a hiperinflação, Durante a transição, todos os preços passaram a ser especificados em URV (Unidade Real de Valor), que valia CR$ 2.750,00 (valor em cruzeiros reais). Quanto o real foi instituído definitivamente, passou a valor 1 URV, ou seja, CR$ 2.750,00. Foi a primeira vez na história do dinheiro no Brasil que a mudança da moeda nã foi com um valor redondo, como por exemplo, retirar três zeros.
Suas cédulas passaram a exibir animais da fauna brasileira em uma face e a efígie da república na outra, já que a galeria de heróis brasileiros estava escassas depois de tantas mudanças anteriores.