Durante celebração em Itabela, o Frei Denilson de Freitas da Silva (MsS) abordou com muita propriedade na Homilia, tema relevante à reflexão, sobretudo após os últimos acontecimentos em todos os recantos do país.

Veja o texto na íntegra:

“A Igreja Católica do mundo inteiro vivencia até novembro do corrente, o Ano da Fé. Porém, antes de falarmos da fé, enquanto uma das três virtudes teologais, é preciso esclarecer que todo ser humano possui a chamada fé natural. O simples fato de sentarmos num banco, de atravessarmos a rua na faixa branca com o sinal vermelho é fé natural, ou seja, creditamos confiança e segurança de que não iremos cair do banco ou sermos atropelados. Mas existe, além desta, a fé teologal ou fé espiritual que é dom de Deus. A fé, nesta perspectiva, é condição para o diálogo com o Senhor. Então, somente um homem/mulher de fé e que tem fé pode relacionar-se com Deus. O Ano da Fé quer nos recordar incisivamente que nossa fé em Deus, a fé cristã, deve nos levar a uma experiência profunda e verdadeira de um progressivo conhecimento de Jesus Cristo. E aqui, permita-me, conhecimento não pode ser entendido como algo meramente intelectual, mas realmente VIVENCIAL. É conhecer Jesus, para viver como Ele, seguí-Lo, para amá-Lo de fato! Então, uma paulatina adesão afetiva e efetiva, sentimento e convicção racional de que Jesus é o Salvador de cada pessoa e de toda a humanidade e do universo.

Porém, é preciso tirar da fé aquilo que não faz parte dela genuinamente ou que a empobrece: o misticismo e a ilusão do magicismo. Ter fé é caminhar em meio às trevas e ser luz – como uma vela acesa – que aos poucos, em cada passo dado, existe um caminho a minha frente, a ser percorrido e que pode ter obstáculos que inclusive podem me machucar, fazer cair, me derrubar. A fé cristã deve iluminar a vida em todas as suas dimensões – por isso dizemos que o testemunho, o exemplo de vida são importantes; a fé em Cristo me faz entender que eu devo ser no meio dos outros, nos diversos lugares, na sociedade... um outro Cristo na terra. Mas existem os chamados “cristãos gelol”. Se lembram da propaganda do gelol: caiu, bateu, machucou... passa gelol que passa (rsrsrs). Equivocadamente, esse ‘povo gelol’ vê a fé como algo que anestesia (ilusoriamente) suas vidas. Qual é o desdobramento disso? Diante dos problemas, das dificuldades, das intempéries da vida humana... reza que passa! Isso não é fé cristã. Ela não resolve as coisas de forma mágica.  A fé em Cristo ilumina a vida para que as decisões corretas sejam tomadas e a fortalece para que, mesmo em meio às turbulências (que são as trevas) continuemos a caminhar com a chama da fé. Então, é preciso caminhar, perseverar, seguir a Cristo.

Também os amigos de Jesus tiveram que caminhar na penumbra da fé: Pedro, Tiago e João, seletos entre os discípulos e os doze, e que estavam nos momentos mais importantes e decisivos da vida do Mestre. Até então pescadores de peixes, Jesus os chamou a serem pescadores de homens, de gente! O pescador deve ser um homem capaz de persistir, de perseverar mesmo que haja mau tempo e pesca não farta. Ele deve continuar, mesmo apesar de tudo. Mas para uma boa pesca as redes não podem também ter buracos, estar furadas. Quem quer seguir Jesus deve abrir o próprio coração ao Senhor e permitir que Ele vá, pouco a pouco, consertando as redes do nosso coração.

Deixar tudo é um processo, mas o primeiro passo deve ser dado em direção a Jesus. Deixar tudo é escolher a melhor parte. Mesmo que por vezes seja doloroso, é preciso deixar para trás redes furadas, barcas, pessoas, estilos de vida que não nos ajudam a fazer de Jesus o tudo de nossa vida. Somente a fé pode ajudar a dar estes passos para professarmos com a vida e o coração que Jesus é nosso Senhor e Salvador”.