Pauta de discussões – e controvérsias – em todo o mundo, a política de destinação dos resíduos sólidos começa a ganhar uma nova história na Bahia. Com o intuito de erradicar os lixões no estado, o governo da Bahia, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), assinou um protocolo com a empresa norte-americana Shift Energy Holdings, que desenvolveu uma tecnologia que transforma o lixo em biocombustíveis.
O investimento do projeto será de R$ 200 milhões. “A Bahia vai sair na frente”, destaca o titular da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), Eduardo Sodré. “Não estamos apenas desenvolvendo a solução para acabar com os lixões nos municípios, que causam contaminação dos solos e recursos hídricos, além de riscos à saúde, mas também contribuindo de forma decisiva na redução do aquecimento global”.
Na Bahia, no ano de 2019, o total de lixo declarado pelas cidades passou de três milhões de toneladas. Sem condições de financiar os aterros sanitários, que custam em torno de R$ 4 milhões para implementação e R$ 800 mil mensais para manter, alguns municípios enfrentam dificuldade para acabar com os lixões a céu aberto.
“A solução que traremos retira esse custo dos municípios, sendo que o lucro da empresa operadora vem da venda dos produtos resultantes do processo de refino, sobretudo combustíveis verdes, com destaque para o querosene de aviação”, explica o titular da Secti, André Joazeiro. “As prefeituras deixam de ter custo com a destinação final do lixo”, acrescenta o gestor estadual.
Fundada no ano de 2014, a Shift Energy Holdings tem como sócios o brasileiro naturalizado norte-americano Rodney Alves e o americano Adrian Tylim e está baseada no estado da Califórnia.
Suas principais atividades são projetar e operar projetos de infraestrutura ambiental, em especial plantas industriais para produção de combustíveis e energia renováveis usando resíduos sólidos urbanos (RSU) e biomassas.
A empresa conta com parcerias com renomadas instituições dos Estados Unidos, como a Universidade de Houston e o OAK National Laboratory. “Nosso know-how é resultado de extensas pesquisas e acesso a tecnologias modernas e ambientalmente seguras, devidamente testadas, para produção de combustíveis sustentáveis”, explica Rodney Alves, CEO da companhia.
Parque Tecnológico
No Brasil, a empresa vai realizar as pesquisas a partir do Parque Tecnológico da Bahia, por meio de uma parceria com o governo do Estado, por meio da Secti.
“A infraestrutura e o apoio oferecidos pelo Estado foram fundamentais para a decisão de escolher o Parque Tecnológico da Bahia para ser nossa sede no Brasil”, explica o empresário.
“Outro fator decisivo é o fato de as políticas públicas do governo da Bahia, assim como a visão estratégica do governador Jerônimo Rodrigues, estarem alinhadas com os propósitos da Shift Energy. Isso se traduz na promoção de um desenvolvimento capaz de conjugar crescimento econômico e qualidade de vida para todos, sem colocar em risco o meio ambiente”, diz Rodney Alves.
Por alcançar um ciclo completo sem deixar impactos ambientais, a biorrefinaria desenvolvida pela empresa é um de seus projetos de referência. Ela conta com componentes tecnológicos exclusivos e um protocolo que garante emissões zero durante a transformação de resíduos em novos produtos.
A água acumulada na coletada dos resíduos é reciclada e reutilizada no processo produtivo e a energia elétrica consumida é produzida pela própria planta, que gera excedentes comercializáveis.
“A biorrefinaria processa resíduos orgânicos e não orgânicos, residenciais e industriais, como papéis, plásticos, papelão, restos de alimentos”, explica Adrian Tylim. “Os materiais se tornam matérias-primas para produzirmos o querosene de aviação verde, energia elétrica e outros produtos e subprodutos, inclusive tendo a possibilidade de produzir hidrogênio verde”.
Planejamento
Em um primeiro momento, a empresa fará análises dos resíduos das regiões baianas para adequar os processos físicos e químicos aos parâmetros brasileiros, pois resíduos produzidos aqui são diferentes dos gerados nos EUA. Os estudos serão feitos em conjunto com o centro de pesquisa da Shift Energy na Califórnia. Após os estudos no Parque Tecnológico, será desenvolvida uma planta-piloto no Parque Tecnológico de Transição Energética, a ser implantado em Camaçari e que servirá para os testes práticos. Com a tecnologia mais eficiente, plantas industriais poderão ser implementadas pelo Brasil. Rodney vê o País como “essencial” para o equilíbrio ambiental global e um modelo para outras nações.
Biocombustíveis como base do desenvolvimento sustentável
Prioridade dos governos Lula, em nível federal, e Jerônimo, no plano estadual, a transição energética objetiva substituir os sistemas de produção e consumo de energia baseados em combustíveis fósseis por fontes de energia mais limpas, sustentáveis e renováveis.
Para o titular da Sema, Eduardo Sodré, as políticas estaduais e federais alinhadas abrem espaço para que novas tecnologias – como a desenvolvida pela Shift Energy – sejam implementadas no País.
Sodré lembra que a queima de combustíveis fósseis, como petróleo e gás natural, é uma das principais fontes de emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global.
À frente da Secti, André Joazeiro, aponta que a produção de biocombustíveis é a forma mais eficiente de diminuir as emissões de CO2. De acordo com ele, o Parque Tecnológico de Transição Energética, que será instalado em Camaçari, está projetado para acolher a planta industrial piloto da Shift Energy, visando a aprimorar a eficiência do processo.
Infraestrutura científica
“A transição dos combustíveis fósseis para a energia limpa requer uma infraestrutura científica específica”, afirma. “Reunir em um só espaço pesquisas voltadas para essa finalidade é a forma mais eficiente de termos soluções no mais curto espaço de tempo.”