São pouco mais de 50 mil habitantes. E não há nenhum caso de Covid-19 registrado. Porém veio dos 14 vereadores de Ribeira do Pombal um exercício pouco comum no circuito político. Os representantes locais doaram 100% dos vencimentos líquidos para ações de combate ao novo coronavírus. A justificativa do presidente da Câmara, Bebeto, pareceu nobre. Mesmo antes de ter uma confirmação da doença entre os pombalenses, é melhor alocar recursos para evitar o colapso do município, que funcionaria como um entreposto das cidades vizinhas.
Há um pouco de jogada para a plateia. É ano eleitoral e os vereadores ficam muito bem na fita quando atuam dessa forma. Independente da motivação ter sido essa – o que nesse caso caberia que os fins justificam os meios –, a Câmara de Ribeira do Pombal poderia ter iniciado um movimento sem precedente para que agentes políticos nos mais diversos rincões do Brasil atuassem dessa forma. Poderia se vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidente seguissem a linha coerente de cada um dar a sua dose de contribuição para o combate à pandemia. Porém não aprendi a criar expectativas. Melhor criar um cachorro.
Enquanto isso, o Congresso Nacional vive em guerra com o Palácio do Planalto, tendendo a fazer o governo federal sangrar ao máximo sem uma dose clara de sacrifício vinda de deputados e senadores. Ah, mas eles estão preocupados com o futuro da nação... Bata-me uma vitamina de abacate. Aqui na Bahia, pelo menos, os deputados estaduais estão em sintonia com o governo. Só não fazem um gesto de abrir mão de regalias para uma parcela de contribuição, ainda que simbólica, para lidar com a crise do novo coronavírus.
Putz! Você está sendo injusto, Fernando. Os deputados estaduais destinaram as emendas parlamentares para a saúde. Se o dinheiro fosse deles, até consideraria o altruísmo do ato. Para mim deveria ser uma obrigação fazê-lo, ainda que seja preciso divulgar o ato para que ele tenha validade política. Ninguém aprendeu com a Bíblia, que ensina a dar esmola com a mão esquerda para que a mão direita não veja. Ah, isso não é esmola, é dinheiro público mesmo. Lembra da verba indenizatória para a convocação extraordinária de janeiro? Sente e espere para ver se todos os 63 parlamentares fizeram uma graça para o povo...
E os vereadores? Como falei, melhor não criar expectativa. Até agora é possível até ver ações pontuais de doações de partes dos vencimentos e nada muito como efeito manada. Seria tão bonito ver todos os agentes políticos dando efetivamente uma parcela, ainda que pequena, para ajudar com os cofres públicos nessa batalha... Talvez se ainda não tivéssemos recebidos os portugueses aqui, lá em 1499, isso fosse possível. Agora é só torcer para que ao menos um ou outro se inspire no exemplo de Pombal - não o marquês, para não confundir.