Depois de duas desistências, muita celeuma dentro da própria base e a emergência de um ilustre desconhecido, a chapa governista para o Palácio de Ondina ganhou um líder para chamar de seu: Jerônimo Rodrigues. Ajudante de ordens do governador Rui Costa, o secretário estadual de Educação é um esforço do atual mandatário para não parecer desarticulado na construção de um sucessor. Jerônimo é, antes de tudo, o nome de Rui na disputa. Ou melhor, é quase uma extensão de Rui. Talvez por isso haja o esforço em pintá-lo como um candidato competitivo.
Decerto, dentre os três nomes pinçados, o secretário é o menos pesado do ponto de vista eleitoral. Tanto Luiz Caetano quanto Moema Gramacho já foram testados nas urnas e, em diversas situações, expostos pelas gestões no Executivo. Entre correr riscos com passados remexidos e apostar em algo “novo”, o PT acabou indo com a segunda opção. Após contribuir para a tensão dentro da base (ou foi ele que criou, como alguns sugerem?), Rui fez brotar do âmago do governo mais um coelho da cartola.
O governador tenta apostar na fórmula que funcionou em 2010 com Dilma Rousseff, no plano federal, e com a própria ascensão dele ao governo estadual, em 2014. Figuras pouco expressivas que lograram êxito, mas ancoradas na força dos padrinhos políticos. Para 2022, Rui espera que a fórmula se repita, apostando ainda no efeito Luiz Inácio Lula da Silva e a onda vermelha. É muito bom quando a inspiração se limita a bons momentos. Porém nem tudo são flores em situações como a atual. Vide a própria experiência do PT em Salvador há dois anos.
Rui tinha sido eleito com uma esmagadora maioria de votos, inclusive em Salvador. Em janeiro de 2020, contra tudo e todos no PT (e olha que não faltavam candidatos do partido), o governador sacou a Major Denice da Ronda Maria da Penha para tentar fazer dela prefeita da capital baiana. O resultado já sabemos. Denice Santiago não chegou perto de arranhar o favoritismo de Bruno Reis e a transferência de votos de Rui para ela almejada não fez cócegas.
A ausência de adversários competitivos facilitou a vida do PT em 2010 e 2014, nos exemplos citados. Em 2020, quando a lógica não se repetiu, a contabilidade criativa para a eleição não deu certo. A disputa do próximo mês de outubro se assemelha mais com o último embate para prefeito do que os resultados “felizes” para o petismo. ACM Neto não só é um candidato competitivo como se consolidou como favorito após tanta fragilidade exposta pela inabilidade política dos envolvidos no processo de construção da chapa majoritária governista. E olha que a equação do Progressistas não está totalmente solucionada, o que pode ser uma dor de cabeça extra para o grupo.
Jerônimo pode até vestir a roupa de candidato. Resta saber se a vestimenta de governador vai caber - ou se a população vai querer que ele a vista. Já o governador usou bem a fantasia de Saci e conseguiu dar alguns pulos para resolver o problema que ele ajudou a criar.