“A política não interessa a todo mundo mesmo”, é o que dizem especialistas em recente discussão sobre o afastamento dos cidadãos da política.
Segundo o professor Manoel Leonardo Santos, estudioso da ciência política, a abstenção nas últimas eleições brasileiras em 2010 cresceu, quebrando uma tendência de comparecimento eleitoral crescente que o Brasil vinha experimentando nas décadas anteriores.
Para o professor Leonardo, as diferenças regionais geram um fenômeno que ele classifica como grave: os índices de abstenção são maiores nas regiões mais carentes do país, onde os eleitores têm menor renda, pior nível educacional e menos acesso à informação, e essa análise é corroborada pelos dados. Dos dez estados com maior média de abstenção eleitoral entre 1994, primeiro ano disponível na série histórica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e 2010, sete aparecem entre os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, segundo o estudo mais recente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
“Quem menos participa são aqueles que mais precisam participar. A falta de envolvimento político de setores menos favorecidos da sociedade acaba reproduzindo as desigualdades e deixando essas pessoas de fora do processo”, alerta o professor.
O porquê da abstenção
Os motivos que levam o eleitor a não votar são tão desconhecidos para estudiosos da Ciência Política quanto aqueles que os levam às urnas. Será que as pessoas votam por que acham importante a democracia ou porque o voto é obrigatório?
Para o professor Almeida, embora não acredite que ela conte a história toda, a obrigatoriedade do voto é apontada como o principal motor da participação eleitoral no Brasil, que está entre os 22 países no mundo em que o voto é obrigatório, enumerando ainda uma série de fatores que se juntam para manter o eleitor em casa no domingo de eleição, como as características das regras eleitorais, educação e aspectos socioeconômicos.
De acordo com Acir Almeida, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), essa tendência de distanciamento dos eleitores pôde ser registrada em diferentes países em tempos recentes. “O engajamento das pessoas tem aparentado declínio mesmo nas democracias mais consolidadas. É um padrão internacional, mas ainda não há explicação consolidada para isso”, observa.
Fonte: Agência Senado