O deputado Federal Valmir Assunção, em entrevista concedida à Tribuna, não esconde a sua insatisfação com o governo do estado: “A nossa reclamação central é que parte dos secretários parece que não escuta o que o governador determina. O governador determina e os secretários, no processo da burocracia interno das suas secretarias, não viabilizam, não agilizam aquilo que o governador determina. Esse é o tensionamento que existe por parte nossa”.
Valmir criticou o episódio em que o subsecretário de Segurança Pública da Bahia atirou para conter a invasão do movimento à sede da secretaria: “Nós não podemos admitir, nem podemos aceitar que um subsecretário do governo Wagner – ou de qualquer governo – possa disparar contra famílias, pessoas do Sem Terra ou contra qualquer (sic) outras pessoas que estejam reivindicando os seus direitos e que são direitos legítimos e que fazem parte de organizações respeitadas na sociedade”.
“Acho que o governador exagerou na defesa do subsecretário. Acho que o mais correto, nesse caso, era o governador averiguar o que aconteceu para depois emitir opinião. E não foi nesse caso. Se o governador ouviu a Secretaria de Segurança Pública, não ouviu a nossa situação, o que levou nós estarmos lá, na terça-feira, pressionando o secretário de Segurança Pública”, disse Valmir.
Valmir também não negou haver um distanciamento entre o MST e o governo Dilma, problema atribuído principalmente à falta de empenho do governo federal para a reforma agrária, e ainda acusa o presidente do Incra, Carlos Guedes, de insensibilidade com as famílias acampadas.
“Olha, vive o pior momento porque nós estamos há um ano e um mês que a presidente Dilma não assinou um decreto de desapropriação de terra nesse Brasil. Nós nunca antes, na história do Brasil, passamos um período tão longo sem ter decreto de desapropriação para assentar as famílias que estão acampadas. Essa é uma identificação dura e cruel que nós estamos vivendo hoje no processo de reforma agrária. O outro aspecto é com relação ao crédito. O governo federal se comprometeu conosco que ia criar um novo crédito para a reforma agrária, que fosse menos burocratizado, que fosse mais fácil às famílias assentadas e até hoje não criou. O presidente do Incra, Carlos Guedes, tomou a atitude de confiscar os recursos do crédito de instalação que tem dentro dos assentamentos, que é um crédito que as famílias, quando elas são assentadas, imediatamente recebem para a construção da casa, para recuperação da casa, para a questão de água, enfim, para infraestrutura dentro dos assentamentos. E o presidente do Incra estabeleceu uma portaria, por incrível que pareça no dia 13 de junho, e essa portaria fez com que todos os recursos que estavam conveniados entre o Incra e as associações que estavam depositados no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica fossem para o Tesouro Nacional. Isso nós ficamos na seguinte situação: nós não temos o processo desapropriatório, porque o governo federal, através da presidente, não desapropria, nós não temos um novo crédito, porque o governo federal não lançou ainda, e nós não temos os créditos que desde 1985 foram criados, que é o crédito de instalação, que o presidente do Incra confiscou esses recursos. Ou seja, nós nunca pensamos, na nossa história, qualquer militante de esquerda ou de movimento social, que chegaríamos numa situação como essa, em um processo de reforma agrária num governo do PT”, asseverou o deputado.
Perguntado sobre o maior acerto e maior erro do governo Wagner, disse Valmir: “Eu acho que o maior acerto do governo Wagner foi ter estabelecido um governo democrático. Um governo que dialoga com todos os segmentos da sociedade, um governo que dialoga com todos os partidos, todos os prefeitos, todos os movimentos sociais. Eu acho que esse é o maior acerto do governo Wagner. Nós vivíamos na Bahia em um longo período de um governo ditador, um governo que não dialogava, um governo que utilizava o slogan “dinheiro na mão, chicote na outra”. Wagner pegou o governo e democratizou. Mostra para a sociedade que é possível fazer um governo dialogando com todo mundo. Esse eu acho que é um legado importante para todas as gerações. Eu acho que o maior erro do governo Wagner, se eu posso dizer que é um erro, foi justamente na política de aliança. Eu acho que o governo Wagner, mediante a necessidade de ter maioria na Assembleia Legislativa, fez uma política de aliança que absorveu determinadas lideranças do estado que boa parte da esquerda tinha rejeição. Eu acho que esse é o grande problema, que confunde a cabeça das pessoas, que faz com que a sociedade não entenda a diferença de projeto de governo, principalmente no interior. Essa confusão, eu acho que é ruim para a política”, finalizou.
Original: Tribuna