O mercado de trabalho não é mais o mesmo. Empregos tradicionais abriram espaço para atuações diferenciadas e empreendedoras. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, 65% das crianças que estão começando o primário devem trabalhar em empregos que ainda não existem. Mas como se preparar para encarar as profissões do futuro?
Especialistas afirmam que as habilidades do futuro serão comportamentais e não técnicas e quem quiser se preparar para os novos tempos precisa aprender como pensar e não no que pensar.
Dentro dessa perspectiva, o modelo tradicional de educação já não contempla esse futuro tão próximo e o modelo linear e industrial deve ceder espaço para padrões mais conscientes e criativos.
O profissional do futuro terá não apenas uma, mas deverá desenvolver até cinco carreiras ao longo da vida. Isso quando essas profissões não forem desempenhadas simultaneamente.
Cabeça de obra
Para o consultor de carreira e comportamento e professor universitário Vitoriano Garrido, atualmente 25% dos postos de trabalho foram automatizados e, nos próximos quatro anos, esse percentual será de 50%. “O mercado está dispensando mão de obra em nome das cabeças de obra e quem perde são os menos qualificados”, completa o professor.
Para ilustrar sua afirmativa, ele conta que da última vez que estacionou o carro na rua ouviu um pedido desesperado de um guardador da zona azul, reclamando que ninguém mais pagava, preferindo usar o aplicativo.
“Para que as pessoas possam concorrer com essa inevitável automação, é fundamental investir nas áreas onde a inteligência artificial não alcança, onde a humanidade e a capacidade de direcionar o pensamento da máquina fazem o diferencial”, complementa.
O presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), regional Bahia, Wladimir Martins, pontua que desde a primeira revolução industrial, a automação sempre comprometeu postos de trabalho, mas as máquinas possuem limitações. “A alternativa talvez esteja em buscar algo que verdadeiramente se gosta e investir nisso, pois nem sempre o dinheiro será a coisa mais importante num futuro de profissional”, ensina.
Perfis comportamentais
Aliado a isso, ele lembra a importância do auto conhecimento para identificar as áreas de interesse e de competência para determinadas funções. “Por vezes, um teste vocacional pode ajudar na avaliação de um perfil comportamental mais adequado para as funções”, ensina.
Garrido lembra que áreas como administração, economia, ciências da computação, engenharia, publicidade e psicologia voltam a ganhar um novo olhar em funções como Especialista em Segurança Digital, Gerente de Mídias Sociais, Administrador Digital, Atuários, Analistas de Energias Alternativas, Engenheiro de Simulação e Analista de Imagem.
Para Garrido, para se manter no mercado, os indivíduos precisam investir em educação continuada, sempre compreendendo que a escolha não deve se guiar pelas profissões da moda, que saturam o mercado rapidamente, mas sim em opções pautadas em escolhas pessoais que levem em consideração a aptidão e o desejo de cada um.
O coach ressalta ainda a necessidade de desenvolver não apenas a intelegência que ensina a pensar, mas também a conciência para sentir.
Carreiras para os próximos anos
Especialista em Segurança Digital A segurança cibernética é uma indústria crescente.Cursos recomendados: Sistemas de Informação, Ciência da Computação, Engenharia da Computação; Salário médio: R$ 4.500,00.
Gerente de Mídias Sociais As redes sociais deixaram de ser espaço de entretenimento. Cursos recomendados: Marketing, Publicidade e Propaganda. R$ 3.500,00.
Analistas de Energias Alternativas Avaliar as melhores opções de sustentabilidade para empresas.Cursos recomendados: Engenharia Ambiental, Engenharia Elétrico-Eletrônica, Sistemas de Energia e Automação, Geofísica, Geografia, Geologia.Salário médio de R$ 5.000,00.
Entre humanos e máquinas
O engenheiro mecatrônico e coordenador do curso de Engenharia da UNIFACs, Murilo Ribeiro salienta que a humanidade vive uma revolução tecnológica em diversos seguimentos. “A robótica e a Inteligência Artificial em muitas áreas não são mais ficção, mas sim realidade e têm mudado drasticamente nossas interações e também têm impactado nas atividades profissionais”, afirma ele.
Para ilustrar sua fala, ele cita que diagnósticos médicos, por exemplo, que consistem em cruzar informações sobre sintomas, poderão ser facilmente feitos por máquinas, mas que esses computadores não conseguem cuidar e apoiar.
Para ele, não resta dúvidas que nesse contexto é fundamental desenvolver novas habilidades. “Criatividade, influência social, inteligência emocional, domínio tecnológico e de programação, aprendizagem contínua e estratégica são algumas destas habilidades”, garante o professor.
Otimista em relação a esse futuro profissional, o coordenador dos cursos de Comunicação Social, Jornalismo e Relações Pública Mateus Santana acredita que as profissões valorizadas serão aquelas que realizem interfaces entre as novas tecnologias e o homem. “Esse profissional precisará ter o olhar aberto para essas mudanças que ocorrerão numa velocidade ainda maior”, garante Mateus Santana.
Ambos professores concordam que características essencialmente humanas serão altamente requisitadas, pois para essas, as máquinas jamais conseguirão alcançar ou fazer melhor.
Entrevista Maira Habimorad
A diretora de Desenvolvimento do Aluno da Adtalem Brasil, Maira Habimorad, afirma que quem quiser crescer no mercado de trabalho precisa aprender a gerir pessoas,desenvolver resiliência e se propor a viver experiências que proporcionem esse desenvolvimento.
O que uma pessoa deve ter em mente quando pensa no futuro profissional?
Sempre considerar seus objetivos, suas competências/interesses e talentos e o mercado que deseja atuar. Quando se pensa nesse futuro tão volátil e incerto, é fundamental buscar informações sobre as tendências do setor que deseja atuar e principalmente como a tecnologia irá mudar o setor, pois todos serão fortemente impactados. Quanto mais regulado o setor, mais tempo demorará para mudar.
Quais carreiras ou áreas são apontadas como tendências de futuro?
Muito difícil apontar uma carreira ou áreas, mas todos os trabalhos que capturarem essa intersecção entre uma profissão tradicional e a tecnologia terão um espaço interessante a ser ocupado. Por exemplo, um contador que atende de blockchain, um economista que domina a lógica de investimento em criptomoedas ou um psicólogo especializado em atendimento remoto.
Como a formação profissional deve ser vista nesse momento, onde carreiras tradicionais estão em via de extinção?
Como uma jornada de uma vida inteira. Estamos habituados a pensar no formato de Ensino Básico, Médio, Superior. Esse modelo continua existindo, mas passa a conviver com experiências de formação contínuas e diárias, como uma rotina de aprendizado que vá agregando novos repertórios, inclusive de temas que fogem da área de formação original. Outra coisa importante é a alfabetização digital e desenvolvimento de competências comportamentais. O futuro do ser humano é ser cada vez mais humano.
Como conciliar vocação e crescimento financeiro?
Não são mutuamente excludentes. Pelo contrário, quanto mais prazer existir no trabalho, mais chances de persistir e crescer na trajetória. A questão está em entender como transformar uma vocação em fonte de renda. Existem muitos jeitos de monetizar um talento, mas isso precisa fazer parte do plano de formação profissional.
Quais as dicas para se manter sempre no mercado quando já se escolheu uma profissão?
Manter-se atualizado sobre a sua área de atuação e o que está acontecendo no mundo. Isso todos sabem, mas nem todo mundo faz. Outro ponto é não só se preocupar em aprender coisas técnicas sobre a sua área, mas, principalmente, desenvolver os comportamentos necessários.